Inacessibilidade das máscaras para pessoas surdas/deficientes auditivas
Máscaras são incontestavelmente necessárias, mas se constituem como barreiras físicas para a comunicação das pessoas com perda auditiva
As mudanças na forma de comunicação são um dos fatores mais sentidos pelas pessoas, devido à pandemia pelo novo coronavírus. Hoje, é necessário mantermos o distanciamento social, sem apertos de mão, abraços e “cheiros”, tão nordestinos. Com a obrigatoriedade do uso das máscaras, até a interação através dos sorrisos terão que aguardar um pouco mais. O modo de estarmos presencialmente foi afetado pelas limitações importantes e necessárias para a proteção e o controle da pandemia da COVID-19 e a máscara, atualmente, é um dos grandes recursos para tal. Possui baixo custo, pode ser feita do reuso de outras peças de roupa e, para quem gostar, pode até ter um toque moderno ou lúdico. O importante é cumprir o objetivo a que se propõe, filtrar o ar que respiramos, protegendo a nós e aos outros.
Dados do IBGE apontam que cerca de dez milhões de pessoas possuem perdas auditivas, equivalendo a 4% da população brasileira. Para grande parte delas, a máscara é uma barreira comunicacional, impedindo a leitura orofacial e dificultando a percepção de parte das expressões faciais. As notas técnicas sobre as máscaras da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) consideram a capacidade de bloqueio de gotículas, o ajuste à face e o vazamento de ar. Algumas máscaras artesanais inclusivas já são encontradas no mercado, buscando atender às necessidades comunicacionais das pessoas surdas/deficientes auditivas ou com outras necessidades específicas. Há um modelo de máscara de tecido com visor transparente e outras confeccionadas totalmente de plástico flexível. Um tradutor e intérprete de Libras, que vem atuando com o modelo artesanal exclusivamente de plástico, descreve seu uso como incômodo e, ao ser perguntado sobre como realiza a respiração, respondeu: “pelos espaços da máscara no rosto”. Ou seja, não há o bloqueio da passagem do ar externo, incorrendo em risco para quem a usa e para que as pessoas que estariam próximas, caso o profissional estivesse assintomático. Outro aspecto é a produção de gotículas que se alojam na superfície do material não poroso, o que também não é recomendado pelas autoridades em saúde. Em contrapartida, uma professora surda que se comunica por meio da Língua Brasileira de Sinais (Libras), sente dificuldade em entender alguns aspectos da comunicação com máscaras não acessíveis, mas diz ser mais importante a segurança das pessoas.
Em busca de solução, uma fundação de uma empresa da área automobilística teve a iniciativa de produzir as máscaras do modelo misto, onde foi desenvolvido um plástico com filme que anuncia ser antiembaçante, produzidas aqui no Brasil.
Uma questão a ser considerada, é que estes modelos não estão regulamentados por órgãos governamentais nacionais. Nos Estados Unidos, há um modelo de máscara que possui ampla visibilização da face, design anatômico, padrão de filtragem N-99 e esterilização inteligente com UV, sendo a única aprovada pelos órgãos de controle norte-americanos. Toda essa tecnologia tem um custo a partir de 49 dólares a máscara e 12 dólares, os filtros. Assim, fica a sugestão para pesquisadores(as) brasileiros(as) criarem um produto acessível ao bolso e à comunicação para as pessoas surdas/deficientes auditivas readquirem o direito a entender e se fazer entender, seja na língua oral ou na língua de sinais.
Adriana Di Donato
Docente em Fonoaudiologia da UFPE.